segunda-feira, 28 de agosto de 2023

 Rio de Janeiro, 27 de agosto de 2023.

02:15 Tenho essa mania imbecil de colocar o horário em que começo e termino a escrever. Geralmente entre o início e o fim demoram dias, às vezes anos. Mas vou tentar escrever um texto rápido. Inclusive, num surto, faço de novo. Espero que, dessa vez, não demore tanto. Quantas vezes tinha o empecilho de escrever daquele jeito, noutro estilo, imaginar alguma coisa...? O que no final, escrever é tão mentiroso quanto falar. Obviamente devo gaguejar ou falar num som inaudível porque as pessoas sempre pedem pra eu repetir. Ou talvez seja o sotaque. 

02:20 E, enfim, mais uma vez não sei que horas são e fico sem noção do tempo.

02:21 É mentira porque estou cronometrando o tempo como se estivesse parindo alguém. Demoro demais e vou me observando.

02:25 Voltei no texto pra corrigir umas merdas aí, meias verdades não. Estou com dificuldade de dormir, por isso que estou tomando alguns remédios de vez em quando. Zolpidem. Depois de alguns rápidos minutos começo a ver as coisas mexendo.

02:27 O surto: é algo sem necessidade de nada, mandei uma mensagem pra uma amiga dizendo que parece as Visões da Raven. É tipo uma história (estória) que preciso contar. Mas pra contar preciso primeiro aprender o básico de matemática, os números naturais, depois os inteiros, os partidos e tal. E vem as equações de primeiro grau, aí segundo grau e parou. As equações de terceiro grau a gente nunca que aprende e sei que tem algo complexo nisso.

02:31 Desliguei o computador sem querer. 17 graus de temperatura. Dezessete. 17. Dezessete. Não decido como escrever.

Duas horas e trinta e três minutos. Perdendo o foco e sim. Está um pouco frio pra mim e estou de casaco. Fiquei sabendo que Clarice Lispector morava aqui por perto. Longe. Uns 30 minutos andando. Li ontem um conto, muito interessante, sobre ela e talvez seja um pouco o motivo desse surto.  Mas é algum surto do tipo solidão mesmo. Melhor desabafar em algo programático e esquecer. É melhor escrever com o Times New Roman, Calibri não gosto. Mas o que eu quero não é falar, mas ouvir e esquecer.

02:39 Não vou demorar tanto. A dificuldade pra dormir e sonhar se resolve, mas o sistema demora pra acontecer.

Rio de Janeiro, 28 de agosto de 2023.

15:58 Acabei que não consegui terminar de escrever naquele dia e não quis continuar de novo. Preciso estudar. Descobri esses dias que assistir vídeos de procrastinação procrastinando é uma metalinguagem. Se eu tivesse a língua presa. Achei que todos os meus problemas seriam resolvidos apenas com um. Me enganei. Mas sempre achei que estaria nesse lugar mesmo. Só que num andar mais alto.

16:03 A estória que eu preciso contar se ambienta em 3 lugares distintos: Recife, Rio de Janeiro e Rio Branco. Só que eu nunca morei em Rio Branco. Então talvez me mude pra lá.

16:09 Talvez seja um quebra-cabeça apenas, gostaria de ser um quebra-cabeça. Fiquei imaginando que se eu tivesse o poder de ler mentes, precisaria ser mais inteligente pra conseguir fazer o quebra-cabeça da cabeça.

16:12 Agora eu vou.

16:13

sábado, 30 de abril de 2016

amor-xarifado.

Zero absoluto, no vácuo:
Músicas que nunca deverão ser tocadas.

À temperatura ambiente e no escuro:
Quadros que nunca deverão ser expostos.

Guilhotina e cremação em magma:
Poesias que nunca deverão ser recitadas.


poesia necessária.

Eu não escrevo porque sou cego.
As palavras são outras, e faço poesia no escuro.

Eu não interrompo porque sou mudo.
Incapaz de colocar uma vírgula entre você e o vocativo.

Sem tato – em carne viva.
Sem/Seu olfato – impregnado.
Seu gosto – amargo.

E você sempre sendo nuvem passageira,
e o corpo óbito dissecado com o laudo:

amou demais.

sábado, 9 de abril de 2016

Tal como ontem, me despi das roupas,
quando chego, retiro os sapatos cansados:
uma dor muda, eloquente.

Tal como ontem, encontrei no mofo,
as prateleiras, no bafo do quarto fechado,
o gato morto por inanição.

Tal como ontem fomos ser, e sendo,
achando que Deus (?) entraria pela porta,
nos salvando do pecado.

Tal como ontem, trabalho, grito, tristeza,
necessidade, drogas, sono, apenas ego,
sexo uma vez por mês.

Tal como quase sempre,
me escondi em casa, 
tranquei o banheiro, olhei a navalha,
e
tal como ontem
resolvi que, mais uma vez,
não.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Estudo Nº1. 06.01.2009

Diga agora quem não crê no sentido contrário
e quem nunca foi no mesmo sentido da equação exata:
- um ali, outro aqui, outro acolá.

Mentem todos.
Mente quem diz, mente quem desdiz.
Mente quem já riu de alguém que levou uma topada.
Mente quem já sorriu pra uma criança que foi vista levando uma surra.
Mente quem nunca olhou nos olhos de um menino de rua.
(Mente até aquela que olhou para o espelho e se achou feia).

Eu conto a mentira dos poetas.

Ah, agora contas a verdade?
Tadinha de tu ("Pessoa" desdentada),
Agora é tarde!
Tarde pra o espelho te puxar pra dentro,
Tarde para aquele esperto que passou olhando, olhar e
transformar o que pode não ser mais do que um ângulo reto.

Eu tenho o medo dos poetas,
o medo de olhar no rosto concreto.

Raramente se é pensado no anormal,
no esquisito, no estranho, no grotesco.
Porque quando se pensa, 
se pensa na alma.

Eu tenho o nojo dos poetas.

Olhe pra mim e não chore,
Me deixa ficar sozinho.
Porque só, eu me reconheço.
Porque quando eu saio na rua,
e vejo a agonia dos rostos.
Quando eu abro um livro,
e vejo o enfarte da arte.
E quando eu olho no espelho,
vejo quem eu sou.

Me deixa derrapar na curva
pra não ficar dando voltas e voltas no mesmo lugar,
procurando o algo a mais para surgir um círculo perfeito.
Não me deixe ir pelo sentido contrário,
Não me deixe ficar com medo.

Eu conto a mentira dos poetas,
E não tenho medo de ser.

Chamar sem CH. 08.12.2008

Como pode alguém dizer que dela alguém é dona
Pensar que estar sem ela é estar doente
Achando que só ela realmente é que te chama
Chamando loucamente o que se sente.

Que chamado é esse que hipnotiza? 
E que delicadamente mata e pisa.
Ele não quer e quer ao mesmo tempo chamar:
E se não for correspondido faz se matar.

Mas como é que se chama descontente,
Se puder, chamando até ficar sem dente:
- Eu não quero realmente quem me chama
  Eu só quero que me chamem lá na cama.

De que adianta chamar sem ser chamado
Fingindo ignorar, dizendo-se ocupado.
Vivendo para sempre esse segredo sem partida, 
Morrendo aos poucos nessa vida desmentida.

Intromissão. 2008.

Nêga,
se tu nascesse
como eu 
e eu
fosse tu
eu me matava!